Uniform

O legal da música é que ela te faz pensar. Mesmo que a dita cuja seja tão ruim que faça com que você pense: “que lixo é esse?”, de alguma forma, a música é uma ação, e causa uma reação.

Porém, certas musicas nos levam a pensar além do simples “Essa é legal! Essa não!”.

Certas músicas nos levam a pensar sobre a vida, o universo, e tudo mais (citação indispensável de Douglas Adams).

Enfim, uma certa música me fez pensar um pouco sobre o mundo ao nosso redor, e suas variações de comportamento.

Kele Okereke diz em Uniforma respeito de uma sociedade que vem se modificando de forma fria e descompromissada, movida pelas tendências, supostamente rebeldes, desinteressadas e desinteressantes.

Nessa sociedade, vemos as famosas tribos urbanas. Tais tribos dificilmente se misturam, e algumas chegam a hostilizar as outras. Mas o que ganhamos com isso?

A moda e as tendências nos induzem a viver de acordo com o que elas nos direcionam. A música é apenas uma das formas pela qual se manifestam, e é o exemplo que utilizo para expressar tal pensamento.
Porém o que vemos, desde muito tempo, é que somos cada dia mais bombardeados pelo já batido e ultrapassado modo americano.

“Mas o que tem de tão legal nisso?”
Essa é a questão feita por muitos.

E nisso, vemos muitas tendências, modos de expressão, culturas. Moda.
Ultimamente o que mais temos ouvido falar é da moda emo. “Tudo é emo. E emo é lixo”. Mas será mesmo?

Penso que nada é descartável. Talvez você não goste ou aceite tal movimento, mas desprezá-lo sem conhecer seu ideal e valores, é ter a mente fechada. Se desprezarmos o movimento emo, perdemos, por exemplo, a oportunidade de conhecer bandas com muita qualidade, como Fall Out Boy, Panic At The Disco, entre outras.
Tais bandas, podem até ser bastante comerciais, porém são bastante criativas, com elementos diversos inclusos em suas influências. Existem também os lixos nesses meios, mas não entrarei em detalhes. E isso vale para a atual Black Music Americana” (termo que deixou de ser utilizado para o R‘nB e o Soul, para ser mais voltado para o Hip Hop e o Rap), e também outros movimentos, como o crescente “Indie Canadense” com Feist, Cat Power, entre outros nomes.


Mas imaginem se o mesmo tivesse acontecido quando surgiram o rock progressivo e o punk (entre outros movimentos da época).
Duas vertentes totalmente opostas, “brigando” frente a frente. Se descartássemos a importância de tais movimentos, críticas sociais e políticas vindas de ambos os lados (vide The Clash, Pink Floyd, entre outros) poderiam ter sido deixadas de lado com o tempo, mas a qualidade das mesmas, acentuadas pelas diferenças entre elas, tornou tais movimentos mais intensos e inesquecíveis. (Para se ter uma noção da “briga” diz a lenda que, um dos membros do The Clash só foi admitido após aparecer em um show com uma camiseta do Pink Floyd escrito “I Hate Pink Floyd”).


Porém voltando aos dias atuais, o que tenho percebido, principalmente no meio de “ciências humanas”, é que, graças à desvalorização e desprestigio, e principalmente a falta de criatividade e novidades do produto americano, a busca em ser diferente tornou-se tão difundida, que a “não-moda” acabou por virar mais uma moda.

É legal ser indie. Ouvir Interpol, Radiohead, Arctic Monkeys, Cansei de ser Sexy e algumas bandas desconhecidas. Usar roupas indie, camisetas com sátiras de logotipos de marcas famosas ou com personagens como o Seu Madruga, Chiquinha, entre outros.
Cultuar “O Fabuloso Destino de Amelie Poulain”, “Corra Lola, Corra” e outros filmes europeus. Ser fã de Kubrick, Aronofsky, Gondry, entre outros.

E de repente, essa “desamericanização”, torna-se uma “onda cult européia”.

E dessa forma, vemos que Kele Okereke se mostra certo ao dizer, em Uniform, que “se sentiu desapontado ao ver que todos os jovens pareciam iguais, usando suas máscaras frias e indiferentes”. E ainda critica a sociedade que busca solucionar seus problemas de outras formas, quando diz: “beba no fim de semana para esquecer da tristeza, pense em mais coisas para comprar. A TV me ensinou como ser mal humorado e não amar nada, E como fazer meu cabelo crescer”.

E continua dizendo que: “Sou um mártir, só preciso de um motivo, Sou um mártir, só preciso de um por que, Acredito, só preciso de um momento, Acredito, só preciso de um por que, estamos achando difícil quebrar o “molde”, estamos achando difícil ficarmos sozinhos, estamos achando difícil passarmos um tempo só nosso, e não temos nada para dizer.”.

E completa dizendo simplesmente: “Uniforme”.

Sim, uniformes, como aqueles da escola, onde todos os alunos se vestem iguais, independentemente de sua classe sócio-econômica. Da mesma forma as tendências se manifestam. Por mais que tentem parecer diferentes, no fundo, todos acabam sendo iguais. Todos usam unifomes.

E assim, vivemos nesse mundo. Um mundo onde as pessoas seguem tendências, mesmo aquelas que dizem que não as seguem. E por mais que talvez não aceitemos, de alguma forma nos enquadramos em alguma delas. Não sou contra esses movimentos, e de certa forma, acho que me encaixo nessa "onda cult européia" (afinal, gosto do brit-rock, Gondry, etc.), mesmo não sendo contra o "produto cultural" norte-americano. Acho que é importante conhecermos tais culturas, pois, goste ou não, trata-se de conhecimento. Porém creio que existem coisas muito maiores do que rótulos e ideologias vazias.

E talvez por isso, Kele termina sua música, ressaltando o que havia dito no começo. “Havia certo desapontamento, ao sair da alameda. Todos os jovens pareciam iguais”.


Comentários

Anônimo disse…
Gostei da bastante do texto! O que tem de mais legal em músicas, filmes e livros é esse tchuim! que faz a gente pensar sobre certos assuntos.

Sobre os preconceitos musicais, é bem estúpido julgar estilos ou bandas sem conhecer muito bem. Já que você citou o Emo. Tem banda que eu realmente não gosto, mas tem trocentas bandas boas de Emo por aí.

Essa música Uniform, eu não conheço, mas a letra é bem interessante. Me manda essa música depois? :)
Unknown disse…
Gostei da bastante do texto! O que tem de mais legal em músicas, filmes e livros é esse tchuim! que faz a gente pensar sobre certos assuntos. [2]

a Natália falou TUDO.

Nós só zuamos os emos e não a música que eles fazem, tem banda emo boa.


"É legal ser indie."
Adoooro CSS.


prguiça de escrever o resto.
depois comento again.


beijo Fê
Anônimo disse…
Fe, achei o texto muito bom, despretencioso, vc parece querer esclarecer coisas - ate pra vc mesmo - e nao ficar apenas pontuando suas preferencias, e isso eh muito legal... Pq se o escritor esta se questionando, imagine o q fara o leitor?!?!?! hehehee
adorei... quero mais!!!!
bj
Fabiola
Anônimo disse…
E aí, Felipe!
Tema interessante e belo texto. Desde já, parabéns!
Bem, acredito que, atualmente, a tendência de aparecerem coisas descartáveis na grande mídia - sejam bandas, músicas, filmes, ou qualquer outro produto cultural - é maior. O tempo é, cada vez mais, peça fundamental em nossas vidas. Parece que o dia não tem mais 24h, que os anos estão passando mais rápidos, e por aí vai.
Vale ressaltar que, hoje, vemos uma juventude acomodada, sem idéias e ideais. Será que as tribos urbanas são uma forma de desmentir isso? Na minha opinião, não.
O futuro? Quem viver, verá. Espero que esse quadro mude - para melhor, é claro.
Sydnei Melo disse…
Salve Felipe.

Desencantei ^^

vejo com otimismo esta diversidade de formas e simbolismos culturais que inevitalvemente se apresentam a toda sociedade, apesar de haver ignorância suficiente para que estas mesmas possam realizar seu conflito interno em prol da destruição alheia. Mas fora isso, o fato é que a diversidade existe, e a alteridade é necessaria para sabermos lidar com esta complexa teia cultural.

Um elemento para se pensar é que, apesar de surgir como culturas de contradição ou contestação, dentro de um sistema de valores onde o valor agregado ganha intensa importância, é inevitável não falar em um "poder fagocitótico" do capitalismo em relação à música, à moda, enfim, a todos estes símbolos manifestados pela juventude. Tudo isto passa em algum momento por ser usado com alguma agregação de valor que volte seus fins originais para outros que mantenham a estrutura contestada... Fui confuso?

Grande abraço!

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